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Entrevista: Dois comportamentos podem reduzir fatura da luz em 6%

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Entrevista: Dois comportamentos podem reduzir fatura da luz em 6% 24-06-2013

Ana Rita Antunes, coordenadora das áreas da energia e alterações climáticas da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, explica que medidas podem ser tomadas para reduzir o consumo de energia através da alteração de comportamentos, especialmente no verão, e avalia a postura dos portugueses quanto à eficiência energética.

EE: Considera que a crise e o aumento do custo da eletricidade levaram finalmente os portugueses a implementar medidas de eficiência energética?

Ana Rita Antunes: O aumento do custo da eletricidade fez com que as pessoas passassem a olhar mais para a sua conta de eletricidade e levou a uma oportunidade durante estes anos de crise - que esperemos que passem rapidamente - para nos tornarmos mais eficientes e para adquirirmos bons hábitos de consumo que depois devem manter-se quando todos tivermos mais disponibilidade financeira. Mas convém usar essa disponibilidade financeira noutras coisas e não em desperdício de eletricidade.

O projeto EcoCasa, para uma melhor gestão do consumo de energia no setor doméstico, já existe desde 2004, há quase dez anos. Considera que as pessoas já estão mais conscientes quanto à eficiência energética, mas não fazem alterações por inércia?
Neste quase dez anos, há  uma maior consciencialização, quer para a eficiência energética, quer para a resolução de problemas ambientais ou a tornarmo-nos mais eficientes a utilizar os recursos no nosso dia-a-dia. Penso que os portugueses têm aprendido, ao longo dos últimos anos, a ter mais preocupações ambientais e a estarem também mais despertos para estes problemas. As coisas mudaram muito, mas ainda há coisas que devem continuar a ser trabalhadas e mensagens que devem continuar a passar, porque ainda podemos tornar-nos mais amigos do ambiente no nosso dia-a-dia.

Quais as falhas mais recorrentes que têm diagnosticado nas famílias?
Nos últimos dez anos, para além do projeto EcoCasa, temos tido vários projetos da EcoFamílias, onde vamos a casa das pessoas medir o consumo de energia e ver onde é que se pode atuar. Já acompanhámos cerca de 1300 famílias em todo o país e o último projeto deste género que fizemos foi o Família Oeiras Ecológica, que já vai na terceira edição, e onde ainda se verifica que estas famílias têm um potencial de poupança, por exemplo, na eliminação do standby e do off-mode, que é aquele consumo que continua a acontecer mesmo depois dos equipamentos desligados. Podemos reduzir ainda seis por cento do consumo de eletricidade anual pela anulação destes consumos do standby e fantasma. Há uns anos a percentagem era muito mais elevada, mas agora, com o fim das lâmpadas incandescentes, que já não se encontram no mercado, o potencial de poupança é menos elevado.

[Consulte aqui como pode eliminar o standby e o off-mode]

Pela sua perceção, ainda há muitas pessoas sem a tarifa bi-horária?
A tarifa bi-horária não nos faz poupar eletricidade, mas faz-nos poupar dinheiro. A Quercus também fala muito da tarifa bi-horária, não pela poupança de eletricidade, mas porque ajuda ao consumo de energia renovável, principalmente quando é produzida durante a noite. É uma energia que não é preciso ser armazenada, pode ser logo consumida. Eu não conheço os números oficiais, mas penso que ainda há uma margem bastante grande para as famílias aderirem ao bi-horário e para isto ser rentável, do ponto de vista da gestão familiar, basta apenas transferir alguns dos consumos que fazemos em horário nobre, como as máquinas de lavar roupa ou loiça ou o termoacumulador.

Recentemente foi criado o projeto EcoFamilias da Póvoa. Em que consiste?
Vamos arrancar com o projeto EcoFamílias na Póvoa de Santa Iria, num bairro do centro histórico da Póvoa que está a ser recuperado. É um ecobairro e foi feita uma parceria entre a Quercus e a Póvoa para alargar a recuperação do bairro no seu exterior e para entrar no interior das famílias e ajudá-las a poupar e a tornarem-se mais amigas do ambiente. Para quem morar na freguesia da Póvoa, ainda estão abertas as inscrições até ao final de julho através do Este endereço de e-mail está protegido de spam bots, pelo que necessita do Javascript activado para o visualizar ou do 213462210.

A ideia é fazer protocolos desta natureza com outras autarquias?
Sim, nós tentamos aproveitar as oportunidades que surgem para fazer projetos deste género. Nos casos da Família Oeiras Ecológica e da Ecofamílias da Póvoa, não é só a componente de energia elétrica que é avaliada, mas também qual é o potencial de poupança, por exemplo, da emissão de dióxido de carbono pela maior preparação dos resíduos. Também damos dicas a cada família para aumentar a eficiência no consumo de água. E também, no caso de Oeiras, é alargada ao consumo sustentável. Há uma série de outras áreas ambientais que são avaliadas para que cada família torne o seu dia-a-dia mais amigo do ambiente.

De que forma é que as pessoas podem em casa e nos empregos ter uma climatização confortável e gastar menos energia? Ou seja, como usar o ar condicionado de modo eficiente?
A regulação da temperatura faz com que os ares condicionados sejam mais eficientes e gastem menos energia. Por exemplo, colocar a temperatura no verão em cerca de 25 °C e no Inverno entre 19 a 20 °C. Por cada grau que aumentamos ou diminuímos no ar condicionado, estamos também a aumentar o consumo de energia elétrica (...).

E quanto ao uso de tecnologias? Há quem diga, por exemplo, que o Internet Explorer é o browser que consome menos energia. Que outros cuidados deve ter-se com o computador para poupar?
O cuidado fundamental é regular bem a  hibernação do computador, ou seja, se vamos almoçar durante uma hora e não queremos desligar o computador, convém que ele não fique ligado, mas sim que entre em hibernação. Também desligar o monitor quando saímos de perto do computador e não deixar o computador ligado durante toda a noite.

E no que se refere aos transportes, considera que a crise tem sido uma oportunidade para as pessoas usarem mais transportes públicos, bicicletas ou sistemas de boleias?
Os transportes públicos estão a perder clientes, mas também se vende menos gasolina e gasóleo em Portugal. Não é fácil fazer essa avaliação tendo em conta os números oficiais. Mas, quando olhamos para o transporte individual vs. transporte público, normalmente caímos todos no mesmo erro que é comparar o preço do bilhete com o que vamos gastar em combustível e esta comparação é injusta para o transporte público, quando devemos comparar o preço de um bilhete com os gastos totais do carro: a compra, a manutenção, impostos que temos anualmente para o manter. Nesta comparação, podemos chegar à conclusão de que um carro, pelo seu tempo de vida, se calhar custo entre 300 a 500 euros por mês e um passe custa 50 euros. (...) Eu sei que muitas vezes não é fácil, porque a rede de transportes públicos também não é das melhores ou as pessoas vivem longe de uma rede. Mas uma família que tem dois carros, se calhar pode fazer contas de outra maneira e tentar abdicar de um dos carros para poupar dinheiro e reduções emissões [de CO2].

Quanto a investimentos em eficiência energética, os preços ainda são muito caros?
Muitas vezes, por exemplo, na compra de grandes eletrodomésticos devemos lembrarmo-nos de que ele vai estar a uso durante dez anos. A EcoCasa tem simuladores que ajudam a fazer essa escolha. Quando estamos a comparar eletrodomésticos temos de pensar não só no poder de compra, mas também na eletricidade que ele vai consumir ao longo dos dez anos de vida e muitas vezes quando se faz esta contabilização, chegamos à conclusão que comprar um A++ é certamente melhor do que um A+ e muitas vezes ao comprar um A+++ poupa-se dinheiro durante os dez anos em relação a comprar um A++. (...)

Há alguns incentivos ou apoios do Estado para ajudar as famílias a reduzirem as faturas?
Há o Fundo de Eficiência Energética para troca de janelas e isolamento. Esse é neste momento o único concurso ativo para as famílias que queiram investir em eficiência energética nas suas casas. É de tentar - estamos no verão e é a altura que dá para fazer as obras –  investir, porque tudo o que ganharmos em isolamento e em janelas eficientes vamos depois poupar no próximo inverno em aquecimento elétrico e também no verão.

E os investimentos em energias renováveis, como o solar térmico, têm vindo a melhorar?
Sim, os preços estão bem mais baixos e, neste momento, o solar térmico tem um tempo de retorno de investimento de cerca de seis anos. Depois, podemos ter aquecimento de águas sanitárias em nossas casas sem gastarmos dinheiro ou gastando muito pouco.


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